Como Agentes de Combate às Endemias Lidam com Recusas em Bairro Nobre de São Paulo
Enfrentando Desafios no Combate à Dengue em Cidade Jardim
Agentes de combate a endemias da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo enfrentam obstáculos no nobre bairro da Cidade Jardim, na zona sul da capital paulista. Durante suas ações, são recebidos com respostas como "O patrão não está e eu não tenho autorização para mandar vocês entrarem" ou "Não se preocupe, não. Aqui não tem dengue". Essa resistência cria um desafio adicional para o importante trabalho de orientação e eliminação de possíveis focos do mosquito Aedes aegypti.
O Cenário em Cidade Jardim: Índice de Recusa em Torno de 30%
Em uma recente operação acompanhada pela Folha, uma equipe de agentes deparou-se com um índice de recusa de aproximadamente 30% em Cidade Jardim. Dos 15 imóveis abordados, em seis houve recusa por parte dos moradores ou funcionários. Essa situação levanta preocupações quanto à conscientização da população sobre a importância do trabalho dos agentes de saúde.
A Importância da Conscientização da População
O economista José Luiz, um dos moradores que permitiu a orientação, destaca a relevância do trabalho dos agentes: "Esse trabalho é ótimo e deveria ser feito sempre. Principalmente nós, dessa região arborizada com muitas piscinas, deveríamos permitir que os agentes entrem e orientem. Orientação é o principal". O infectologista David Uip, reitor do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC, concorda, enfatizando a necessidade de conscientização prévia da população.
Desafios e Inseguranças
A insegurança da população, tanto em relação à abertura de suas portas quanto à gravidade da dengue, é um desafio adicional enfrentado pelos agentes. Uip destaca que as pessoas muitas vezes não abrem suas portas por medo do desconhecido. Além disso, o descrédito em relação à gravidade da dengue é um fator preocupante.
A Dengue: Mais Incidente e Mais Grave
Especialistas alertam para a presença do sorotipo 3 da dengue no país após cerca de 15 anos. Com a doença mais incidente e grave, com novas formas clínicas, a conscientização da população torna-se crucial. Uip destaca que a forma grave da doença não se limita mais à hemorrágica, abrangendo condições como miocardite e encefalite por dengue.
Situações Inadequadas Encontradas pelos Agentes
Em residências onde a entrada foi permitida, os agentes encontraram situações inadequadas, como vaso sanitário em desuso com água parada e pratos usados sob vasos que acumulavam água. Recipientes sob plantas, especialmente com bromélias, e piscinas também foram identificados como focos comuns na região de Cidade Jardim.
Superando a Desconfiança: Construindo Conexões com a Comunidade
Os Agentes de endemias Luciana Pacheco Lima e Rafael Carvalhais Régis, que atuam em Capela do Socorro, destacam o aumento das recusas devido à insegurança da população. A construção da confiança é fundamental, e eles enfatizam a importância da mídia em auxiliar nesse processo.
A Relação entre Recusas e Percepção de Risco
Luiz Arthur Caldeira, coordenador de Vigilância em Saúde do município, aponta que as recusas estão ligadas à insegurança e à baixa percepção de risco. A pandemia de COVID-19 pode ter contribuído para uma diminuição geral na percepção da gravidade de outras doenças. Em épocas de alta transmissão, a aceitação das visitas dos agentes aumenta, refletindo a mudança na percepção de risco da população.
Dados Atuais sobre a Dengue em São Paulo
Até 16 de novembro, São Paulo registrou 12.814 casos de dengue, um aumento de 9,9% em relação ao mesmo período de 2022. Dez pessoas faleceram em 2023, enquanto duas morreram no ano anterior. O distrito administrativo do Morumbi, que inclui Cidade Jardim, apresenta uma taxa de incidência de 90,7, indicando uma situação preocupante.
Reconhecendo uma Equipe de Agentes de Combate a Endemias em São Paulo.
Com cerca de 2.200 agentes em atuação, eles se deslocam em carros oficiais da Prefeitura de São Paulo, identificados com logos da Secretaria da Saúde e do SUS. Usam crachá de identificação e uniforme azul, facilitando a identificação. Em caso de dúvida, a população pode ligar para 156 ou verificar o telefone da unidade de vigilância em saúde mais próxima no site da secretaria.
Ao compreender os desafios enfrentados pelos agentes de combate a endemias, a população pode desempenhar um papel crucial na prevenção da dengue e na promoção da saúde coletiva.
Fonte: Folha de São Paulo